Meus amigos estão morrendo. Inicialmente eram mortes esporádicas, acidentes fatais e todos eram muito jovens. Excesso de velocidade, de bebida, de drogas, de vida. Nos últimos tempos, conforme vou avançando nos anos essas mortes têm se tornado frequentes demais e volta e meia vejo-me pranteando um amigo querido que partiu.
Me cubro de luto, lembro os sorrisos, as risadas, os momentos partilhados, as frases ditas e as não ditas, os silêncios cúmplices, o carinho de quem por algum momento da minha existência compartilhou esta caminhada comigo. Tornou mais leve meu fardo, me deu apoio, abraços, abrigo. Depois nossas vidas seguiram rumos diferentes e cada um levou consigo, para sempre, essas lembranças.
Meus amigos estão morrendo e a cada nova morte percebo que estou ficando, como um navio atracado no cais, sozinha.
Tem outros que não morrem fisicamente, morrem afetivamente e nestes casos talvez a dor seja ainda maior. As lembranças alegres da vida compartilhada cedem espaço a mágoa. Ao sentimento incredulidade: como posso ter me enganado tanto – Ela nunca foi minha amiga, apenas me usou. Amizades e amores desfeitos trazem um sentimento de finitude pior que a morte. A pessoa, fala, anda, caminha, mas, infelizmente, morreu dentro de ti.
Por isso, nos últimos tempos, me pego pensando: Qual o sentido da vida? Por que corremos tanto em busca de reconhecimento, de sucesso, de aceitação? Se daqui a pouca nada disso vai importar mais, ficaremos apenas, com poucos afetos verdadeiros, esses sim, leais até o fim, que não deve estar muito longe, pela quantidade de amigos mortos.
Atualmente tenho usado o tempo que me resta para me dar prazer. Bem assim, só faço o que gosto. Leio um bom livro no embalo suave da rede. Brinco com minha neta e me divirto molhando as plantas, o cachorro dando piruetas e faço a festa dos passarinhos que vem banhar-se nas poças d’água acumuladas no chão.
Ouço a histórias do meu marido – tantas vezes repetidas – com o encantamento da primeira vez. Parei de criticar meus filhos ou esperar que sejam diferentes do que são. Tenho me deliciado comendo pitanga colhida do pé, sentido o envolvente aroma do “Jardim do Imperador” que eu mesma plantei ou me deliciando com banho de sais na banheira de hidromassagem.
O tempo, sinto-o escorrendo entre meus dedos, então, só tenho tempo para o essencial. Digo o que penso, faço o que quero e não me preocupo mais em agradar ninguém, além de mim.
Quando a visita inesperada chegar vai encontrar uma pessoa realizada, que fez nesta vida, tudo o que queria ter feito, amou, desamou, construiu pontes, derrubou cancelas, curou suas feridas internas, dançou conforme a música e muitas vezes cantou fora do tom. Mas foi verdadeira em tudo, nos erros e nos acertos e sempre assumiu as consequências de seus atos, vem daí este profundo sentimento de paz.