Reportagem publicada pelo The Intercept Brasil, domingo (09/06), revela que o então juiz federal Sergio Moro, hoje ministro da Justiça, e o procurador da Deltan Dallagnol trocavam mensagens sobre o andamento da Operação Lava Jato.
A denúncia questiona a imparcialidade do então juiz de primeiro grau, quando comandava a “Operação Lava Jato” pela 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba.
As conversas reveladas, supostamente mostrariam que Moro teria orientado investigações da Lava Jato por meio de mensagens trocadas no aplicativo Telegram, entre elas, o caso do tríplex no Guarujá, que levou à prisão o ex-presidente Lula.
Sérgio Moro no comando
A reportagem revela, por meio de gravações “Moro sugeriu ao procurador que trocasse a ordem de fases da Lava Jato, cobrou agilidade em novas operações, deu conselhos estratégicos e pistas informais de investigação, antecipou ao menos uma decisão, criticou e sugeriu recursos ao Ministério Público e deu broncas em Dallagnol como se ele fosse um superior hierárquico dos procuradores e da Polícia Federal”
As mensagens também apontam troca de conselhos sobre a decisão de vazar ou não os áudios entre Dilma Rousseff e Lula, em 2016.
O foco político das investigações
Além da troca de mensagens “nada republicanas” entre Dellagnol e Moro, a reportagem também teria recebido gravações entre procuradores da Lava Jato, que revelam, as estratégias utilizadas para barrar deliberadamente a entrevista de Lula no período eleitoral – com temor de favorecer a campanha de Fernando Haddad.
Segundo Carta Capital em uma delas, uma mulher identificada como ‘Carol PGR’ diz para Dellagnol: “Ando muito preocupada com uma possível volta do PT, mas tenho rezado muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve”, escreveu no grupo do Telegram “Carol PGR”. Para tal, Dallagnol respondeu: “Reza sim”.
Operação Lava Jato – provando do próprio veneno
Dentro do princípio de Maquiavel de que “os fins justificam os meios” a Operação Lava Jato se notabilizou por “vazamentos” seletivos a imprensa e agora seus dois principais condutores, no Judiciário e no Ministério Público, tornam-se vítimas da prática utilizada em diversas fases da operação.
Tanto Moro quanto o Ministério Público divulgaram notas “lamentando” a “falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores”, segundo escreveu o ministro Sérgio Moro. Moro também criticou O ministro da Justiça disse lamentar “a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores” e o “sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato”
Deltan Dallagnol escreveu: “Os procuradores da Lava Jato não vão se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais”.
A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba afirmou, em nota divulgada na noite deste domingo, que “não sabe exatamente ainda a extensão da invasão”, mas que “possivelmente” foram copiados “documentos e dados sobre estratégias e investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança” dos integrantes do grupo e de suas famílias.
Segundo a nota, os procuradores têm “tranquilidade” de que as mensagens “refletem atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial” e que não irão “se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais”. Confira:
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil recomendou, nesta segunda-feira (10/6), que o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol peçam afastamento dos cargos públicos que ocupam, especialmente para que as investigações corram sem qualquer suspeita.
Na nota, a entidade afirma que é preciso, antes de tudo, prudência.
“A íntegra dos documentos deve ser analisada para que, com todo o plexo de direitos fundamentais que lhe é inerente, seja formado juízo definitivo de valor”, diz.
A entidade afirma que está “perplexa e preocupada” com os fatos noticiados pela mídia, envolvendo procuradores da república e Moro.
“Tanto pelo fato de autoridades públicas supostamente terem sido ‘hackeadas’, com grave risco à segurança institucional, quanto pelo conteúdo das conversas veiculadas, que ameaçam caros alicerces do Estado Democrático de Direito”, diz a OAB.
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