O ministro da Justiça, Sergio Moro, participou nesta terça-feira (2) de uma audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara da Câmara dos Deputados.
Assim como aconteceu no Senado no último dia 19, a proposta foi para que o ex-juiz da Lava Jato explique as mensagens trocadas entre ele e procuradores da força-tarefa, reveladas pelo site The Intercept Brasil e agora também analisadas pela Folha.
Moro enfrentou na Câmara dos deputados, um ambiente bem mais hostil do que no Senado. Em sua fala inicial, o ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou que “alguém com muitos recursos” está por trás dos ataques hackers aos celulares de procuradores que deram origem às mensagens reveladas pelo site The Intercept Brasil, e que acompanha as investigações da Polícia Federal como vítima.
“Alguém com recursos porque não é a tentativa de ataque de um celular, mas a tentativa de ataque de vários, em alguns casos, talvez, com sucesso, o que não parece corresponder a atividade de um adolescente com espinha na frente de um computador”, afirmou Moro, que não reconheceu novamente a autenticidade das mensagens.
A exemplo do que aconteceu no Senado, os deputados dos partidos de oposição foram duros nos questionamentos ao ministro, vários deles pediram o afastamento de Sérgio Moro do Cargo, já os parlamentares da base aliada do governo saíram em defesa do ministro, minimizando a importância das revelações feitas pelo site The Intercept Brasil.
A deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP), por exemplo, reiterou que se a autenticidade dos diálogos com a força-tarefa se confirmar, Moro “colocou a pó o código da magistratura nacional”. “Dos 37 artigos, violou 18”. A parlamentar citou um por um e concluiu: “São suspeitas graves. Estão em jogo aqui a legitimidade e a equidade de nossas instituições e da luta contra a corrupção”.
Os parlamentares de oposição também cobraram explicações do ministro sobre a notícia de que a Polícia Federal solicitou ao Coaf um relatório completo sobre as finanças do jornalista do Intercept, Glenn Greenwald. Para o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), “Moro é o chefe da Polícia Federal. Ao colocar o órgão para investigar movimentações financeiras do jornalista, Moro está aparelhando a estrutura do governo brasileiro para promover perseguição política e coação.
Depois de vários questionamentos com o mesmo enfoque Sérgio Moro saiu pela tangente com a seguinte resposta: “As perguntas não têm de ser feitas a mim. Não participo das investigações específicas”
O clima foi de bate-boca e acusações entre parlamentares do governo e de oposição.
Para provocar os petistas, o deputado Filipe Barros (PSL-PR) citou uma lista de cinco apelidos de políticos petistas citados na lista da Odebrecht: Montanha – Paulo Pimenta; solução – Maria do Rosário; pescador – Zeca do PT; Guarulhos – Carloz Zarattini e amante – Gleisi Hoffmann.
Em todos os questionamentos sobre sua parcialidade frente a Operação Lava Jato, o ministro da Justiça respondeu que todas as condenações foram validadas pelas instâncias superiores do judiciário, o que segundo ele, comprovaria sua imparcialidade.
Utilizando a mesma estratégia usada no Senado, Sérgio Moro repetiu que a Lava Jato é a maior operação de investigação contra a corrupção no País, e para desqualificar as acusações, voltou a pedir para que o The Intercept Brasil apresente as mensagens vazadas. “Se as minhas mensagens não foram adulteradas, não haverá nada. É um balão vazio cheio de nada”, afirmou.
A sessão foi presidida pelo deputado Felipe Francischini, (PSL-PR), que irritado com o comportamento dos colegas ameaçou por duas vezes encerrar a sessão e afirmou: — Pelo amor de Deus! Parece a “Escolinha do Professor Raimundo” isto aqui — numa referência ao programa humorístico comandado por Chico Anísio, mas foi infeliz na comparação, ao afirmar “E o salário, ó! O professor Raimundo fazia uma crítica ao salário de professor. No caso do parlamentar, só o salário é de R$ 33,7 mil, sem contar benefícios como auxílio moradia, verba de gabinete e uma penca de assessores, entre outros.
Com relação a cobranças feitas por vários parlamentares de oposição, sobre as investigações envolvendo o ex-assessor do Senador Flávio Bolsonaro(PSL-RJ), Fabrício Queiróz e sobre o assassinato da vereadora do PSOL, Marielle Franco, o ministro respondeu que nos dois casos as investigações estão sendo feitas pelo Ministério Público Estadual do Rio de janeiro, ou seja, não são de competência do ministério da Justiça.
Ao final o que se viu foi um espetáculo deprimente com ofensas de ambos os lados, entre xuxucas e tigrões do governo e da oposição, e, o outrora paladino da justiça, visivelmente constrangido, repetindo explicações que não convencem nem a ele próprio retirou-se da Comissão. Cenas lamentáveis para um Congresso Nacional, na Escolinha do Professor Raimundo, pelo menos havia humor, na Comissão de Constituição e Justiça, nem isso.